Seguidores

sábado, 24 de março de 2012

RELATO DA SEGUNDA SEMANA DE AULA


RELATO DA SEGUNDA SEMANA DE AULA: (Por Guilherme)

Na terça feira, foram ensinados técnicas e movimentos de golpes giratórios tais como a armada, meia lua de compasso, meia lua solta e meia lua simples. Foi ensinado a importância de se olhar sempre o adversário (o olhar é primeiro a sair e chegar antes mesmo que o golpe). O centro de gravidade é a perna que fica no chão, sendo que os braços, tronco e perna golpeadora compõe o movimento e o equilíbrio. Comentou-se que a luta capoeira tem uma historia e não pode ser ensinada apenas como técnicas e movimentos. Assim, na parte teórica da aula oi feita uma introdução sobre os 100 anos de Quilombos de Palmares, localizado na ‘Serra da Barriga’, atual Estado de Alagoas. Comentou-se sobre o personagem do bandeirante Domingos Jorge Velho (cujo grande feito foi destruir o quilombo de palmares e matar Zumbi.) e os heróis Ganga Zumba e Zumbi de Palmares que protagonizaram um combate que levou ao extermínio de Palmares e a morte de Zumbi. A história conta duas versões: de que Zumbi teria se suicidado com seus guerreiros, se atirando de um precipício ou a de que ele teria sido capturado, morto e esquartejado, tendo seus membros e cabeça pendurados em diversos locais da cidade imperial para dar o exemplo. (Joel Rufino) Também foi lido um poema, tratando da situação na qual o negro se encontrou logo após o termino da escravidão, forçando-o a viver nas margens da cidade, tendo como meio de sobrevivência muitas vezes o roubo, a mendicância (crianças) ou a prostituição como no caso das mulheres.

Na quinta feira, depois de recuperar a aula anterior, aprendemos a esquivar dos movimentos giratórios aprendidos na aula passada. Um novo golpe foi introduzido para desenvolver a esquiva e a RASTEIRA: o MARTELO. A rasteira é um movimento muito utilizado na capoeira e que ganha destaque, pois valoriza o capoeira protagonista. (Leia texto de Lucia, abaixo) Com estes movimentos desenvolvemos a primeira sequência de movimentos de esquivas e golpes. Junto a esquiva e rasteira, foi acrescentado a cabeçada, mostrando a importância do “jogo de dentro”. Assim, a sequência ficou: 1 - Martelo, 2 – rasteira e cabeçada, 1 – negativa de fuga e rolê. Por fim, o professor passou um material de leitura para a turma (REGO, AREIAS e FRIGERIO) e comentou sobre o lançamento do fascículo 18 Capoeira da ilha que trata da capoeira e sua origem em Floripa. Ele comentou também a necessidade de se obter calças para a turma a fim de realizarmos um evento que vai simular o batizado no fim do semestre, como fechamento das nossas atividades.

A RASTEIRA (POR LUCIA PALMARES, PARIS)
A rasteira foi um símbolo de pericia dos capoeiristas. Exigia treino e manha, assim que relembra Lúcia Palmares. Ultimamente na capoeira no São Paulo e ainda mais na Europa, lamento a quase-disparição da rasteira.
A rasteira foi um símbolo de pericia dos capoeiristas. Era motivo de horas de treinamento na academia. Para conseguir o sucesso de colocar uma rasteira certeira, os capoeiristas trabalhavam o parceiro; existia o floreio, a ginga, as enganações que fazem parte da capoeira. Não devemos deixar sumir coisa tão importante da capoeira.
Lembro de um caso que demostra como considerada era a rasteira, no tempo ainda recente que eu treinava na academia de Mestre Nô. Um certo aluno, formado depois de anos de aprendizagem, considerou que, com a sua forma física e sua experiência, superava o seu mestre. Desafiou o mestre Nô num sábado a frente de todos os alunos e de diversas visitas. Nô foi para a roda, dizendo que se perdia, ia embora, deixando o aluno senhor da academia. Começou o jogo, num compasso médio, sem cantiga, e demorou bastante tempo. Havia muita tensão; quem tocava tocava, os demais permaneciam silenciosos. Havia momentos de superioridade de um sobre outro, e depois virava a vantagem. Nô cozinhou o aluno até dar uma rasteira fantástica que pegou nas duas pernas e mandou o aluno com as nádegas no chão. O aluno com raiva tentou partir para murros, mas os outros impediram. Ele, no final, ficou tão disgostoso que abandonou a capoeira. É um caso entre muitos que eu vi, que dá para comprovar a importância simbólica da rasteira na capoeira.
Quem não lembra do talento do mestre Canjiquinha, de Um-por-Um (da Massaranduba), de Marcos Alabama, na rasteira?
Nos batizados, a conclusão do jogo do novato era a derrubada com rasteira, excluindo outras formas de desequilibrantes. Hoje vemos capoeiras que se dizem excepcionais não conseguir dar uma rasteira nos alunos que se batizam. Vemos as intimidações dos capoeiras aos novatos, e golpes traumatizantes e balões efetuados sem técnica para derrubá-los.
É lamentável ver que a nova geração de capoeiras tem elementos que não se orgulham numa técnica, e ficam tão inseguros na sua arte, que não abrem o jogo (mesmo que fosse no intuito de derrubar) para principiantes de uns meses de treinamento. Quem está assistindo de longe, vê as oportunidades que eles têm de fazer. Eles não fazem, preferindo os movimentos violentos, para tristeza dos presentes, sejam eles alunos, parentes ou espectadores que conhecem a arte.
Parece, então, que a rasteira saiu do cardápio de muitos capoeiristas. Por quê?
Será que novos métodos de treinamento excluíram a rasteira? Será que não faz parte da capoeira moderna? Será que a rasteira exige demais destes novos donos da capoeira? A rasteira pede muita consciência do outro. Assim que já notei, é preciso trabalhar, cozinhar bastante o oponente para que este se jogue num golpe decisivo... Que acaba na própria derrubada. É o parecer de um mestre; mas precisa de cabeça, e de tempo. Os jogos que assistimos tem por objetivo principal de mostrar movimentos. Sejam agressivos ou acrobáticos, não importa, os movimentos superam na mente dos jogadores a tática, a pericia na arte de manobrar o outro.
Em geral, concordamos com os que acham, como mestre Decânio, que o compasso rápido demais e a vontade de se impor num "vale tudo" prejudicam o jogo da capoeira, tirando a ginga, a rasteira, tudo que faz a beleza da nossa arte.
Se, como suponho, a capoeira da Bahia tem alguma coisa para ensinar ao mundo, (em prática para os nossos alunos europeus), é justamente esta coisa original. Por isso, não podemos aceitar ver um elemento fundamental como a rasteira desprezado.
Por isso, desenvolvemos um trabalho básico com nossos alunos, sejam homens ou mulheres, fracos ou fortes, novos ou velhos, no sentido de uma capoeira que se importa com o outro, parceiro e adversário no mesmo tempo.
Lúcia Palmares maio 1997.

Nenhum comentário:

Postar um comentário