SEGUNDA
SEMANA DE AULA
Por:
Bruno
G. G. da Costa
Nos
reunimos no ginásio de alumínio, hoje com a presença de alguns alunos novos,
estrangeiros e alguns que conseguiram vir pela primeira vez nesta semana. Fomos
apresentados aos monitores da disciplina, Alan e Luiz Eduardo, e iniciamos a
aula com uma conversa sobre a origem da capoeira e a história da miscigenação
étnica e cultural única que constitui a formação do povo brasileiro. (Darci
Ribeiro) Para complementar a revisão desta história, a capoeira da ilha, foi
utilizado livreto da "Nova
cartografia social dos povos e comunidades tradicionais do Brasil, nº 18",
distribuído pelo professor para a turma, cujo título é a Capoeira da Ilha
Florianópolis, Ilha de Santa Catarina. Foram lidas duas falas do Mestre Pinóquio
pelo professor, a fim de esclarecer alguns temas. A primeira: “E a capoeira que foi forjada aqui, pelos
nossos antepassados, que culminou em tudo isso, a capoeira é o que na verdade?
É nossa identidade, nossa cultura(...) A capoeira é embate ao sistema, a
escravidão tá aí... ela não acabou, mudaram o cenário... não tem mais chibata,
mas tem! O cara recebe o salário no final do mês mal da pra pagar o porão.
(...) Ser capoeirista é ser do contra, é literalmente do contra, aquilo que tá
ali já montado, pra nos fazer calar e não ter vez nem voz.” E “Tem o cara que vive, ele tem a capoeira
como uma filosofia de vida, que é o meu caso... Eu consegui enxergar a minha
identidade, eu consegui me situar no mundo através da capoeira. Quando eu
comecei a treinar, a conhecer outras pessoas, e a ler e a me instruir, pude
perceber que toda história contada nas escolas são histórias contadas da
perspectiva do opressor, são histórias fraudulentas, mentirosas, todas as
histórias, que são poucas que eu conheço, mas que até fui, li e conheci,
começando pelo próprio vaticano que eram os próprios escravocratas (...). Acho
que um dos papéis fundamentais da capoeira é isso, é dar caminho, é elucidar,
porque o sistema nos faz tornar pobres, burros, ignorantes, escravos, e a capoeira
não, a capoeira diz que tu tens uma força, tu tens um espírito, tens uma arte,
tu és gente.” Na parte prática, os alunos que já haviam feito aula se
revezaram na dinâmica do professor para gingar com os alunos que estavam tendo
o primeiro contato com a técnica. Após alguns momentos de exercícios de ginga,
aprendemos a nossa primeira acrobacia, a "parada
de mão". Os cinco fundamentos que iremos aprender este semestre são: ginga, esquivas, golpes, negaças e
acrobacias. Logo mais o professor passou a esquiva e a meia lua, e também praticamos revezando com os alunos
novos. O próximo movimento aprendido foi um contragolpe da meia lua, que se caracterizou pela esquiva ao receber a meia lua, e
com um movimento apoiado na mão da esquiva, se soltava outra meia lua em
resposta. Houve dificuldades de se fazer a esquiva, principalmente na questão
de fazer esquiva para o lado correto, não indo de encontro com o contra golpe
do colega, mas logo houve melhora, quando o movimento já estava ficando um
pouco mais consciente e pudemos sentir os momentos que estávamos errado, ou
trocando pernas e braços. Durante esta
pratica, o professor também nos ensinou sobre uma posição entre a esquiva e o
contragolpe, e a importância de sempre olhar para o adversário. A posição consistia
de uma passagem, onde ficaríamos com os dois pés apoiados no chão, abertos, e
nosso tronco deveria estar a frente e abaixo da linha do quadril, de maneira
que pudéssemos observar o adversário por entre as pernas, nos orientando para a
continuação do movimento para um lado mais seguro. O ultimo movimento foi uma rasteira, contra o chute martelo, e uma saída da rasteira logo em seguida. O chute
martelo é um chute lateral, podendo ser feito lateralmente desde a perna no
chão ou então com a flexão de quadril, redirecionando o golpe a partir de então.
O contra golpe se caracteriza pela movimentação na direção contrária a do
martelo, aproximando-se do adversário, com uma defesa contra o chute e levando
a outra perna (não a utilizada no movimento) de encontro a perna de base do
adversário, que logo passaria o peso para a perna que chutou a fim de evitar
uma queda. Após um breve exercícios destes movimentos, jogamos com nossos
colegas utilizando os movimentos que aos poucos vão sendo incorporados. Quer
dizer que pelo treinamento o nosso corpo vai aprendendo e desenvolvendo novas
técnicas corporais, que assim podem ser realizadas de forma natural, com mínimo
de esforço. Em uma roda final, o professor explicou sobre a importância de
sempre jogar com atenção e a origem combativa da capoeira, e a lição para
estarmos sempre alertas, atentos á qualquer perigo em potencial, nunca de
guarda baixa, valorizando a reação e a visão, sempre procurando preservar a
própria integridade, e na medida do possível a dos demais.
Quinta-feira,
13 de setembro de 2012
Começamos
a aula com o aquecimento jogando uns com os outros. O jogo é um momento único,
entre dois capoeiristas que usam os movimentos que sabem, ginga, golpes,
esquivas, negaças e acrobacias a fim de vencer uma luta, mas sem necessariamente
ter que ferir seu adversário, e mesmo assim sempre mantendo-se alerta e
preparado, escapando dos ataques e contra-atacando até que alguém interrompa ou
por algum outro motivo o jogo se encerre. A medida que fomos esquentando alguns
fundamentos foram sendo lembrados e praticados (esquiva, meia lua, martelo,
rasteira, meia lua de compasso, etc.) até que o professor começou a passar
novos exercícios. Nesta aula aprendemos mais uma acrobacia, o Aú, que foi
iniciado com uma "estrela" em exercícios de cruzar a sala e voltar,
com adições de dificuldades, como a visão sempre a frente, ou então com o
colega. O movimento na realidade consiste em uma parada de mãos em movimento
para algum dos lados, seja para escapar de algum golpe ou confundir o adversário,
preparando um ataque ou simplesmente utilizado como locomoção. Percebemos que
ao ver parecia simples, mas a tontura e o equilíbrio realmente fazem do
exercício um desafio.
Aprendemos
também um movimento novo de defesa, ao esquivar da primeira meia lua do
adversário, faríamos uma segunda e terceira esquiva para duas meia luas
seguintes. Após esquivar da terceira meia lua, o adversário ao golpear um chute
frontal, faríamos um movimento em uma base média, com joelhos flexionados e
tronco inclinado para frente, com os braços cruzados para baixo à frente do
corpo, a fim de parar o chute entre os dois antebraços. Quando o chute e os
antebraços tivessem contato, não haveria resistência, e a força do chute faria
com que nos movimentássemos para trás, “caindo” com um pé de apoio e outro à
frente, estendido, que utilizaríamos para fazer a base apoiado também na mão
contrária a esta perna. Em um movimento trazendo a perna estendida para próxima
a de base flexionada, faríamos um movimento de pivô com este pé para nos
levantarmos sempre olhando para o adversário e sabendo sempre qual o lado mais
seguro. Foi provavelmente a movimentação mais complexa que aprendemos desde o
início das aulas, e todos tiveram muitas dificuldades, então acabamos por ficar
praticando este exercício durante a maior parte do tempo de aula. Fizemos
também alguns movimentos próximos ao chão, não podendo se levantar. Nestes
exercícios tivemos que cumprimentar os colegas utilizando os pés e depois
praticar a meia lua com a esquiva angola, e também jogamos nesta altura. Ao
final da aula, foi organizada a roda, na qual conversamos sobre as
aprendizagens e observações das aulas, fizemos um resfriamento através de
alongamento e exercício de respiração, os alongamentos já foram voltados aos
membros inferiores e tronco, determinantes nos movimentos utilizados durante as
nossas práticas. Fizemos alongamentos em duplas e um exercício de respiração em
duplas, que consiste em um dos colegas deitado em decúbito ventral, e o outro
colega em pé sobre ele, ajudando-o na expiração pressionando suas costelas com
as palmas da mão, favorecendo a saída do ar pela compressão da caixa torácica.
Após alguns ciclos de respiração, o colega em pé massagearia as costas do
colega deitado, que relaxaria a fim de voltar seu metabolismo a níveis de
repouso. Ao final fomos avisados da programação da próxima semana, e sobre o
material que deveríamos estar lendo.
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