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sábado, 28 de abril de 2012

RELATO DA SÉTIMA SEMANA DE AULA




RELATO DAS AULAS DE CAPOEIRA DA SETIMA SEMANA.
Por Júlia
A aula do dia 17/04 consistiu na recuperação da aula anterior, a técnica principal da meia-lua solta e outros movimentos. Relembrando que a meia-lua de compasso é realizada com as duas mãos, a meia-lua solta realizada com uma das mãos e também a meia-lua solta realizada sem mãos, com o tronco mais elevado.
1° momento: círculo de conversa
Foram feitos comentários sobre o documentário "O povo Brasileiro", onde pontos da cultura indígena foram levantados, como por exemplo, quando o guerreiro derrotado se transforma em alimento num ritual. Abordamos o choque civilizatório entre a cultura europeia, recém chegada, e a nativa, com hábitos bastante peculiares. Logo, o professor fez um relato sobre sua viagem ao Uruguai, destacando na sua cultura o Candombe, que não é a mesma coisa que o candomblé brasileiro, a não ser pela mesma origem: a cultura dos escravos negros que se desenvolveu sob a chibatas, os castigos e a escravidão no continente americano. Um virou religião, o outro, música. O candombe é o ritmo popular por excelência do Carnaval afro-uruguaio, paixão que lembra o samba e que ocupa as ruas e os teatros da capital. As "Llamadas" reproduzem e recordam um ritual herdado da escravidão negra, quando os cativos, na falta de outras possibilidades mais diretas de comunicação, chamavam e alertavam seus companheiros com o toque dos tambores. Se para sambar bem o segredo está em conseguir coordenar, com graça, naturalidade e ritmo, o gingado dos quadris e o movimento de pernas e pés, no candombe a ordem é manter cintura e pés em segundo plano, enquanto os braços ganham destaque, alternando-se suave. Logo após, fizemos um Comentário sobre a gravação do CD ao vivo na Roda da Figueira, que vai acontecer dia 21 de abril às 12hrs na Praça XV de Novembro. 2° momento da aula: aquecimento e alongamento: Atividade do carangueijo, que pode ser utilizada nas escolas. Acontece com o aluno em quatro apoios, decúbito dorsal, em movimento pelo ginásio, faz um comprimento com o toque dos pés com outro colega. Em decúbito ventral, quatro apoios e fazem um comprimento com a cabeça. Em decúbito dorsal, quatro apois, fazem comprimento com toque das mãos com o colega. Realizamos um Alongamento geral e uma Atividade (brincadeiora de pagar dos escravos), que consiste em um pega-pega, onde quem é pego se agaixa com as mãos na cabeça, e para ser salvo, um colega deve passar a pena por cima do colega agaixado e girtar Zumbi. Muda os pegadores, e agora ao ser pego fica em pé com as pernas afastadas e para ser salvo, um colega deve passar por baixo das pernas e gritar Princesa Isabel. Troca os pegadores, e agora os escravos pegos vão formando uma corrente até todos serem pegos.  OBS: grande empolgação dos alunos nessa atividade dos escravos, principalmente por envolver traços da origem da Capoeira. 3° momento:treinamento e aperfeiçoação: Todos gingam, e o professor realiza um golpe e todos devem esquivar para o lado correto e de maneira certa. Em duplas gingam e trocam golpes, treinando a esquiva (é um movimento de defesa na capoeira. Seu objetivo é evitar um golpe sem tocar no oponente). OBS: Momento de compartilhamento de experiência e aprendizado. Em seguida, em duplas, relembram a sequência dada na aula anterior.  Um da dupla realiza uma meia- lua (golpe giratório, se executa erguendo-se o pé, empurrando-o para fora e puxando para dentro em forma de uma meia-lua. Quando chega à frente da outra perna encolhe-se), e o outro esquiva e faz um AU (movimento de locomoção do capoeirista na roda, que permite aproximar-se ou afastar-se do oponente, armando ataques e executando defesas). O primeiro faz outro meia- lua e o colega realiza uma negativa e esquiva com rolê (movimento de defesa utilizado na capoeira, onde com uma das mãos se proteje o rosto e a outra vai ao chão, com uma perna esticada para a frente e a outra dobrada é o apoio do corpo. O rolê é uma volta de 180° que se dá com os pés e as mãos no chão. Essa movimentação serve para se defender de um golpe, escapar do adversário e voltar para a ginga). Depois inverte. O Professor para  aula e mostra a meia-lua novamente, a meia-lua solta (com o tronco mais elevado), e todos praticam. Em duplas, um realiza meia-lua solta e o outro esquiva. Depois inverte.  OBS: a meia-lua realizada individualmente foi feita com mais facilidade, e em dupla foi feita com maior dificuldade. Outra sequência: Em duplas, um faz meia-lua e o outro esquiva e sai e AU, intercalam. Depois um faz meia-lua solta e entra com uma cabeçada (usado para desequilibrar ou contundir o adversário, atingindo-o no peito, na barriga ou na face. Através da ginga ou diretamente de uma esquiva, o capoeirista lança sua cabeça pra frente contra o adversário. Geralmente esse tipo de movimento é usado como contra-golpe, mas às vezes se usa de uma forma amigável após o término do jogo entre dois capoeiristas) quando o outro está esquivando em AU, intercalam e depois trocam de duplas. Por foim, foi realizado o "Jogo solto", em duplas, onde se usa todo o repertório aprendido, com mistura de movimentos. Tentando “marcar pontos” fazendo uma rasteira (consiste em apoiar as mãos no chão e rodar a perna, num ângulo de 180º, ate que se encaixe por trás do pé do adversário e então o arrasta pra si com o objetivo de derrubar o adversário) ou um martelo (se executa erguendo-se a perna ao mesmo tempo que o corpo é deixado de lado, batendo com a parte de cima do pé). OBS: diferentes tipos de esquiva (esquiva lateral, esquiva alta, esquiva com role), mudando em cada dupla. Jogo com mais divertimento e troca de ensinamentos. 4° momento: volta calma e círculo de conversa: caminhada pelo ginásio, ao parar cada um tenta acompanhar sua frequência cardíaca (realizar a contagem é acompanhá-la por 30 segundos e multiplicar o resultado por 2). Um trabalho de respiração durante o alongamento final. Nova conversa sobre o tango, cambombe, samba, e suas proximidades com a Capoeira. Comentário sobre os aspectos culturais da Capoeira, sua proximidade com o samba dos Anos 60.
Aula do dia 19/04 constitui-se em uma roda de Capoeira e uma prévia da Avalição da próxima aula. Como também, uma aula de troca de aprendizagem. 1° momento: círculo de conversa: Aviso da avaliação do meio do semestre, que vai ocorrer dia 26/04 e serão observados a localização na roda, os fundamentos e o aprendizado com os instrumentos. Nesta roda de Capoeira recebemos o Marcos (aluno capoeirista do grupo Abadá e com problema na perna esquerda devido a um acidente de moto) como convidado para participar da roda. 2° momento: aquecimento e alongamento: O Aquecimento foi passado pelo Cauê, um pega-congela, onde para ser salvo, o colega deveria passar por baixo das pernas de quem estava pego. Alongamento geral. Em duplas fazem um jogo livre, troca de duplas. (Momento de aprendizagem um com outro) 3° momento: roda de capoeira:  Todos cantam, todos lutam pelo menos uma vez, e tocam um pouco de cada instrumento (berimbau, pandeiro, reco- reco). Compartilhamento de saberes do jogo, contanste simulação de ataques e defesas. Uma roda, como manda a tradição, deve ser regida pelo som de três berimbaus. Um com som amis grave – o berra-boi, um com som intermediário – o médio, e um com som mais agudo – o viola.  Além de ditar o ritmo e o estilo de jogo, o berimbau também determina o ritmo das músicas da capoeira, que são classificadas em ladainhas, chulas ou quadras e corridos. 1° jogo de conhecimento, aquecimento. 2° chamada de angola; 3° compra de jogo; Inicia a roda com uma ladainha (ritmo mais calmo), do meio para frente recebe um embalo (com ritmo mais acelaro). 4° momento: círculo de conversa: todos expõem sua experiência na roda, pontos de aprendizagem, facilidades e dificuldades.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

VÍDEOS COM OS MOVIMENTOS BÁSICOS E AVANÇADOS DA CAPOEIRA

Pessoal, boa tarde!
Tudo bem?

Encontrei dois vídeos no Youtube bem bacanas, os quais relacionam e exemplificam alguns dos movimentos principais (básicos e avançados) da Capoeira.
Obviamente, devido às peculiaridades regionais, pode haver diferenças nos pormenores da execução de alguns movimentos, quando comparados aos que aprendemos em aula.
De qualquer maneira, creio que seja um ótimo material de estudo para todos nós, da disciplina.

Aproveitem!
Grande abraço,

William

domingo, 22 de abril de 2012

JOGO DE ANGOLA - CLARA NUNES


Caros alunos, linda referência à nossa inesquecível Clara Nunes. Este é um bom exemplo do que podemos encontrar na música popular brasileira sobre a capoeira. Para a próxima semana procurem se reunir em grupos e escolher aqueles estilos musicais que mais se identificam (choro, samba canção, samba, pagode, bossa nova, mpb, tropicalismo, funk, batuque, rock, reggae, tribalismo, mpb anos 90, musicas da ilha, estilos regionais, etc) Escolham um gênero musical que se identificam e estudem as suas principais expressões, os compositores, interpretes, sucessos, forma musical, historia e curiosidades, mas sobretudo, onde a capoeira neles esteve presente (musica, letra, instrumentos, etc). Aproveitem e se deliciem com a cultura musical do povo brasileiro. Este trabalho deve gerar um CD pessoal, para uso interno e didático da disciplina, mas também, parte dos estudos em nossa disciplina, estudos que resgatem a memória musical do povo brasileiro na qual se inscreve e está nosso objeto de estudo: a prática cultural afro-brasileira, capoeira.
 Prof. Fábio.

sábado, 21 de abril de 2012







Resumo: 
Capoeira: de arte negra a esporte branco.   Alejandro Frigerio
                      Por Aitor Cotelo Fernández
 
Introdução.
Capoeira como expressão artística, mistura de luta e dança; que faz parte do patrimônio cultural afro-brasileiro. Chega na forma de Capoeira Angola e surge uma variante, a Capoeira Regional.
O trabalho, baseado em observações feitas desde 1983 até 1987, nas academias mais importantes propõe oito características que definem a Capoeira Angola como uma forma artística única, criação afro-brasileira que chega até nós com dança, luta, jogo, música, ritual e mímica.

Capoeira como arte.

1.                  Malícia: Referido a “habilidade de surpreender ao adversário, de fechar-se e evitar ser apanhado de surpresa pelo outro”. A picardia no jogo é admirada. O “angoleiro” distrai seu rival, brinca com ele mostrando-se desprotegido para ser atacado e lançar um melhor contra-ataque.

2.                  Complementação: Joga-se sempre perto do rival e respondendo a seus movimentos através de ataques, defesas e contra-ataques. Jogando e deixando jogar.

3.                  Jogo baixo: O jogo de Angola tem muito movimento com ambas as mãos no chão e pernadas baixas que possibilita maior quantidade de movimentos e dá uma dinâmica especial ao jogo.

4.                  Ausência de violência: Os jogos na Capoeira Angola são, polo geral, jogos onde se busca atingir ao adversário e evitar que nos alcance mais sem agressividade e quase sem contato. Isto é um acordo entre os adversários mais em qualquer momento pode-se romper e transformar o jogo em luta.

5.                  Movimentos bonitos: Grande importância do elemento estético, uma estética prôpia que surge do afro-brasileiro. Mais o angoleiro nunca fará um movimento só por ser bonito no canto que sempre servem como defensa, para o deslocamento ou para o ataque; mais como respostas aos movimentos dos adversários. A beleza da Capoeira Angola reside em movimentos encolhidos, fechados, para dar pouco espaço ao adversário. A expressão do rosto, mãos e braços, a ginga mais dançada e, frequentemente, quase substituída por passos do bailado de outras manifestações negras som parte desta estética.

6.                  Música lenta: A Capoeira Angola realizasse com ritmo lento, que favorece ao domínio do corpo e a mente.

7.                  Importância do ritual: A Capoeira é um jogo com regras, não escritas, muito importantes para ser angoleiro. Se não se conhece quando sair do pé do berimbau ou uma chamada terá a desaprovação entre os assistentes.

8.                  Teatralidade: As expressões do rosto e corpo fam parte do jogo e, prévio ao inicio deste, o capoeirista, ao pé do berimbau, pode cantar uma ladainha em referencia ao mundo, a roda ou ao seu adversário; o qual pode responder a sua mensagem. Se não responde dá-se passo ao canto de entrada, durante o qual se fará sinais com gestos em direção ao alto (“Viva meu Deus”), ao Mestre (“Viva meu mestre”), ao adversário (“é mandingueiro” ou “sabe jogar”), para os lados (“joga aqui para cá”) ou em torno (“pelo mundo fora”). Durante o canto de entrada também podem ser feitos gestos que invocam a proteção divina para o jogo. Dá-se a mão ao adversário e este é convidado, ao acabar o canto de entrada e começarem as cantigas, a jogar. Todos os assistentes podem participar desta teatralização posto que qualquer possa iniciar um canto e, a través destes, pode fazer-se referência ao que está acontecendo dentro da roda. A Capoeira é, insistimos, uma forma artística complexa, um jogo-luta, uma dança–ritual-teatro, fruto da criação coletiva de um grupo social determinado – no caso, as camadas populares negras do Brasil. Como tal, deve ser refletir as características mais gerais do grupo do qual surge. Isto se vê claramente na ênfase que se dá, na Capoeira, à malícia e à picardia.

Capoeira como luta.

            Todos os autores que já escreveram sobre Capoeira concordam em que o Mestre Bimba influiu notavelmente na mudança da Capoeira tradicional. Ele foi o primeiro em abrir uma escola de Capoeira em 1932. Foi o primeiro em desenvolver uma metodologia de ensino e, a sua escola, tive importantes consequências no futuro da Capoeira posto que grande parte de seus alunos pertencia á classe média e alta baiana. Para alguns, isto ajuda a que a Capoeira comece a ganhar aceitação social e passe a ser vista como uma manifestação cultural do povo baiano e assim, em 1937, tem lugar a primeira apresentação reconhecida oficialmente no palácio de governo baiano. Mais isto tem consequências menos positivas. O fato de que a academia era frequentada por membros da burguesia acarreta uma alienação com relação ao meio que deu origem à arte já que uma das medidas adotadas foi a de acertar apenas alunos que tivessem carteira profissional assinada, ou que fossem estudantes. “Formou-se um grupo de alunos brancos em torno de Bimba que, de certa maneira, até mandavam. Bimba, apesar de ser um homem excepcional, era ignorante. A verdade é que os negros tinham muito poucas oportunidades de ir para a academia de Bimba aprender Regional. Não estou dizendo que não havia negros praticando Regional, mas, para seis negros, havia seiscentos brancos, enquanto em Angola, 80% eram negros” (Capoeira, 1985, p.162).
            Com Bimba, então, a Capoeira começa a sofrer uma transformação acelerada. Com ele, deixa de ser brincadeira, vadiação, para ser uma luta propriamente dita. Bimba era um temível lutador e talvez fosse sua fama que atraísse os jovens da burguesia. A Capoeira de Bimba elimina ou reduz a ênfase nos efeitos cerimoniais, rituais e lúdicos da Capoeira Angola, e incorpora novos elementos de luta que, até aquele momento, eram-lhe estranhos: agarramentos, defesas contra estes e certos golpes novos.
           
Capoeira como “folclore”.

            Começa assim o processo de legitimação social e, também, o processo de descentralização da Capoeira. Sua prática diminui no ambiente que lhe deu origem, a rua e as festas de largo e passa-se a praticá-la em recintos fechados, escolas que servem como meio de vida para os mestres. Um dos fatores que mais contribuem para sua descentralização é (Rego, 1968, p.361) o próprio órgão municipal de turismo da Bahia. Estes programas frequentem apresentações para turistas, e as academias começam a disputar entre si os favores da entidade, acrescentando ingredientes diferentes (samba de roda, pilhérias, etc.) a suas apresentações a fim de torná-las mais agradáveis para o turista. Assim a Capoeira se “folcloriza”. Em vês de se impor como uma manifestação cultural popular, com características próprias, apresenta-se uma imagem adulterada da mesma, procurando o que mais impressione e agrade o turista.

Capoeira como esporte.
           
            Na Capoeira começa a ganhar popularidade a ideia de que, devidamente regulamentada, poderia ganhar um lugar junto ás artes marciais orientais e, passaria assim, a ser “a arte marcial brasileira”, uma luta esportiva com competições regulamentadas. Surgem, assim, em fins da década de 60, os primeiros campeonatos e tentativas de regulamentação da Capoeira. Neles, tentou-se “criar uma única nomenclatura para os golpes, um único sistema de graduação de alunos, critérios para a graduação de mestres, tudo com a intenção de fundar federações de Capoeira (...) e transformá-la no esporte nacional”. Esse desenvolvimento da Capoeira/espore acarreta várias consequências para a prática e a concepção vigente quanto a esta atividade. Entre elas, destacamos:

1.                  Crescente burocratização: Para ser esporte tenham que existir associações, federações e uma confederação que consagre um regulamento único para a competição e, como toda atividade de origem popular não codificada, existem diferentes concepções em torno do que ela é e de como deve ser praticada e ensinada e, os mestres, não querem ser controlados por uma federação.

2.                  Incorporação de elementos das artes marciais orientais: a Capoeira incorpora elementos que as caracterizam. O uniforme branco, a prática de pés descalços, o uso de cordões para classificar diferentes etapas do aprendizado, a atitude séria e marcial durante os treinos, a saudação ritual (em posição marcial) no início e no fim da aula. Também foram acrescentados pontapés e golpes de mão que, tradicionalmente não existem na Capoeira, modificou-se a execução de certos golpes que já existiam, tornando-os “mais técnicos”.  A “arte marcial brasileira”, então, para gozar do prestígio das outras artes marciais mais bem sucedidas, precisa serem cada vez menos brasileira, perdendo suas características próprias e incorporando outras que lhe são alheias.

3.                  Uma cooptação ideológica e política da arte pelo sistema: A prática da Capoeira, “além de diversão, relax para quem a pratica, ajuda a desenvolver o poder da vontade, a cultivar a cortesia, e patrocina a moderação da linguagem, coopera com a formação do caráter... (Senna, 1980, p.13).

4.                  Concepçãos evolucionistas subjacentes: A concepção evolucionista está graficamente expressa em Capoeira: A Arte Marcial Brasileira, publicação de grande tiragem, escrita com a assessoria de dirigentes de Federação Paulista de Capoeira. O primeiro volume (Pinatti e Oliveira Silva, 1984, cap. I) consta de duas partes: Capoeira/Cultura e Capoeira/Esporte. Na apresentação da primeira, aparecem quatro capoeiristas negros e o professor, branco. Os capoeiristas negros ilustram aqui as formas como se entram no jogo (as “regras” não escritas), os movimentos básicos e os “movimentos em desuso” (que, parecem ignorá-lo, têm ainda plena vigência nas academias Angola de Salvador). A segunda parte, Capoeira/Esporte, está ilustrada por oito capoeiristas brancos, que mostram as formas de aquecimento (contribuição da educação física) e os movimentos de cintura solta (agarramentos e quedas) desenvolvidos por Bimba. A mensagem é muito clara: a Capoeira como cultura pertence aos negros (e aqui só entram os movimentos básicos, e outros já em desuso) e a Capoeira como esporte (com técnicas mais complexas e assessoria da educação física – o preaquecimento) pertence aos brancos.

Tendências atuais da capoeira.

1.                  Malícia: Um dos aspectos que a Capoeira atual mais perdeu. Agora a ênfase recai na velocidade, na força e nos movimentos acrobáticos, em detrimento da burla e da picardia. Nas academias de Angola existentes, os alunos desenvolvem esta qualidade desde o princípio.

2.                  Complementação: A tendência a jogar mais afastado por causa da maior rapidez de movimentos e pelo fato de serem mais espetaculares quebram a complementação já que, em geral, os movimentos som feitos para o próprio brilho no canto de serem em resposta a um movimento do adversário.

3.                  Jogo baixo: Uso frequente de ataques e defensas realizados abaixando-se até o chão mais a Angola utilizam movimentos de pé e em posições intermediárias.

4.                  Ausência de violência: A violência está cada vez mais presente nos jogos.

5.                  Movimentos bonitos: A beleza que se busca nos movimentos corresponde a uma estética diferente. O modelo a imitar é o das artes marciais orientais e, no aspecto acrobático, o da ginástica esportiva mais não acontece isto na Capoeira Angola, na qual os movimentos, por mais que se pretenda torná-los bonitos, tenham um objetivo.

6.                  Música lenta: A Capoeira Regional caracteriza-se por seus ritmos rápidos.

7.                  Importância do ritual: Embora em menor quantidade que na Capoeira tradicional, continuam existindo regras não escritas para o correto desempenho do jogo.

8.                  Teatralidade: É o aspecto que mais se perdeu. Sempre esteve misturado com a malícia, que o sustenta e lhe dá sentido. É por malícia que sai da teatralização, enganoso e inesperado, o ataque certeiro mais reduzida aparição desta na Capoeira Regional, a teatralização quase desaparece.

Academias “mais tradicionais” e “menos tradicionais”.

            Existirá um polo “mais tradicional”, em que a Capoeira praticada conservaria em maior medida as oito características propostas como típicas da Capoeira tradicional; e outro, “menos tradicional”, em que estas características estariam pouco presentes (pouca malícia, pouca complementação, ênfase na luta, violência, movimentos bonitos segundo a estética branca, pouca ritualização e teatralização, etc.). Fica entendido que as academias de Angola estariam situadas no extremo “mais tradicional” da tipologia. Isto não impede que uma academia, por mais que seja de Regional, embora respeite as características desta, também se aproxime do outro polo.
Seria interessante verificar, como propõe Ortiz para sua tipologia.
(Ortiz, 1968, p. 88), se também não poderia ser relacionada com as diferenças de classe existentes na
sociedade, ou seja, se as academias “mais tradicionais” são mais frequentadas pelas classes mais populares e as “menos tradicionais” pelas classes médias e, “na medida em que a linha de classe coincida com a linha de cor” (Ortiz, 1978, p. 89), verificar se os negros tendem a frequentar mais o primeiro tipo de academia. Seguramente haveria também uma diferenciação geográfica: as academias da Bahia podem ser mais perto do polo “mais tradicional” e as de São Paulo do oposto.

Umbanda e capoeira regional: Dois desenvolvimentos paralelos?

            As religiões afro-brasileiras, durante o fim do século passado e parte da metade deste, foram perseguidas e reprimidas pela polícia. Isto se devia ao fato de que o uso de tambores, as danças, os transes, os sacrifícios de animais, a ênfase em melhorar a vida dos adeptos através de meios sobrenaturais (adivinhação, oferendas, trabalhos) eram todos elementos que caracterizavam a religiosidade africana, mas não coincidiam com a visão dominante, branca e católica do que deveria ser uma religião. Seus praticantes, negros e pertencentes às camadas sociais mais baixas, desprovidos de poder político, não podiam opor argumentos à visão racista que os considerava, junto com suas manifestações culturais, um estigma do qual a sociedade brasileira deveria livrar-se para “progredir”. Durante a segunda metade do século passado, o Espiritismo de Allan Kardec se populariza na sociedade brasileira. Nas classes baixas, mistura-se com as práticas afro-brasileiras, influindo enormemente sobre elas. Surge assim a Macumba carioca, o Candomblé de Caboclos baiano, etc. Nas classes médias, impõe-se uma visão mais ortodoxa do Kardecismo.

Durante meados da década de 20, um grupo de homens de classe média, brancos, de procedência espírita, insatisfeitos com o que consideravam uma ênfase desproporcional dada aos aspectos doutrinário e intelectual por parte do Kardecismo, começam a frequentar os centros afro-brasileiros da periferia. Somando a sua bagagem espírita uma ênfase no utilitário e em diferentes aspectos do colorido ritual desses centros, criam uma nova religião que denominam Umbanda (Brown, 1977, p. 33). Esta “Umbanda Branca”, ou “Pura”, como é apresentada, elimina elementos de origem africana desses centros: sacrifícios de animais, oferendas materiais, tambores, danças. Estes aspectos, aos quais consideravam “primitivos”, chocavam-se com seus valores de classe média. A ditadura militar que se estabelece em 1964 é benévola com essa nova religião, que considera um possível meio de controle político. “Os militares, rapidamente, tornam-se muito mais visíveis e numerosos, como líderes de centros e federações de Umbanda” (Brown, 1977, p. 35). É sob o governo militar que o registro dos templos passa da jurisdição policial à civil, a Umbanda é reconhecida como religião no censo oficial e muitos de seus feriados religiosos são incorporados aos calendários públicos (Brown, 1977, p. 35). Assim, a Umbanda, como variante “mais branca” (Ortiz, 1978) da religiosidade afro-brasileira, acomodasse bem aos valores sociais vigentes e é integrada ao sistema e legitimada. Por esta razão, expandem-se nos diferentes níveis sociais e em todas as áreas geográficas, influindo fortemente, ainda, nas outras variantes da religião afro, tanto as mais sincréticas (Batuque do Pará, Pajelança) como as mais ortodoxas (Candomblé da Bahia, Xangô de Recife, Batuque de Porto Alegre). ambas as expressões populares (a Umbanda e a Capoeira Regional), que paralelismos podem ser estabelecidos? Em ambos os casos, havia uma manifestação cultural de origem africana, praticada majoritariamente por setores sociais mais baixos, nos quais predomina a gente de cor (Capoeira tradicional, Macumba e Candomblé). Estas práticas eram estigmatizadas e perseguidas em virtude de sua origem étnica e social. Num determinado momento, um grupo de homens das classes mais acomodadas interessasse por essas manifestações culturais. Assim, em meado da década de 20, um grupo de “kardecistas insatisfeitos” toma elementos dos centros afro-brasileiros e cria a Umbanda. Em meados da década de 30, Mestre Bimba, negro, cria a Capoeira Regional, a partir da tradicional. Sua ênfase na luta, em detrimento de outros elementos culturais, faz com que sua academia passe a ser frequentada, na maioria, por brancos da classe média.

Durante a década de 70 e os anos quase seguiram, a Umbanda se fez presente no Brasil inteiro e tornou-se “a religião brasileira”. A Capoeira Regional (que por causa do ínfimo número de academias que ainda praticam Angola, passou a ser a Capoeira) torna-se a “arte marcial brasileira” e é praticada no Brasil inteiro. Ambas as variantes, com as transformações sofridas, tendo sido renegados os elementos negros que inicialmente as caracterizavam, são integradas ao sistema e legitimadas. O estigma, no entanto, não foi completamente eliminado. Uma crescente burocracia, através de federações cujos dirigentes são, em geral, brancos, tenta regulamentar e depurar ainda mais essas variantes. Mas estas, embora modificadas, mantém em seus praticantes individuais grande parte do caráter popular que lhes deu origem e resistem em encaixar-se nos rígidos moldes que lhes impõe o sistema.